O CALENDÁRIO DA ALMA
por Marilda Milanese
por Marilda Milanese
Este artigo foi publicado originalmente com o título "RELATO DA PALESTRA do Sr. Heinz Zimmermann - Sede da Sociedade Antroposófica, 23/07/2006" no posfácio da 2ª edição do livro Calendário da Alma, de Rudolf Steiner, pela Editora João de Barro, em outubro de 2011.
O ciclo das estações do ano representa o processo respiratório do organismo da Terra, que inspira a alma do mundo no inverno e a expira no verão, de forma alternada, nos dois hemisférios terrestres. Assim, enquanto o hemisfério Norte inspira, o sul expira e vice-versa, formando a imagem da lemniscata: o que está dentro vai para fora, e o que está fora vai para dentro.
Os quatro arcanjos regentes das épocas alternam- se também, aos pares, de forma que um deles atua do Cosmos para a Terra enquanto outro atua da Terra para o Cosmos, ou seja, no humano.
Assim, quando Micael atua do Cosmos, Rafael atua no humano e o resultado é que o Pensamento do Cosmo como um todo, como uma unidade, completa-se entre os dois hemisférios.
Na 1ª edição do Calendário da Alma em 1912 constava a seguinte anotação de Rudolf Steiner: 1879 anos depois do nascimento do Eu, o que indica que ele considerava o Mistério de Gólgota, e não o nascimento de Jesus, como ponto de partida para o Calendário da Alma. Em outras palavras, aponta para a transformação do ciclo anual através do Mistério de Gólgota, o que está indicado também no verso da Pedra Fundamental.
"Pois impera a vontade do Cristo na periferia".
1879 é o início da era de Micael; o Calendário da Alma inicia na Páscoa e se sustenta no eixo formado pelas épocas de Páscoa e Micael, ou na polaridade das atuações de Rafael e Micael. Coloca-se na polaridade entre o individual e o coletivo na constituição da comunidade moderna, no ritmo entre o Eu (Micael) e o Nós (Páscoa).
A vivência do decorrer do tempo coloca-se no Calendário da Alma.
O decorrer linear do tempo representa o fluxo do passado para o futuro. Assim, quando olhamos a correnteza do rio visto de uma ponte, de um lado se vê o fluir da nascente para a foz, mas, se atravessarmos a ponte e olharmos para o outro lado, vemos que da nascente sempre vem a água nova, lá é o futuro de onde vem o novo.
Onde é futuro e onde é passado? No fluir do tempo existem duas correntes, a do futuro ou da vontade que traz o novo, e a do passado ou do pensar (ideias). Ambas devem se unir no humano.
No Calendário da Alma (um verso para cada semana do ano) existem duas correntes, uma delas aparente, e outra oculta:
Versos 1 a 26 representam a corrente que flui da Páscoa para Micael, e tem como correspondente os versos 52 a 27.
Os versos do eixo Páscoa/Micael (1 a 26) estão espelhados em relação aos versos que vão de Micael até a Páscoa (27 a 52).
Assim, o calendário da Alma é um organismo que respira, tendo de fato quatro versos para cada semana: o da estação em que estamos, o do outro hemisfério e os espelhos de cada um deles.
Os versos estão numerados de 1 a 52 começando na Páscoa. A soma dos versos dos espelhos correspondentes sempre é 53 e a diferença entre os números dos versos correspondentes entre os dois hemisférios sempre é 26.
Rudolf Steiner considera o duplo fluir do tempo como sua mais importante contribuição para o mundo. O encontro das duas correntes temporais propicia a encarnação, e a essência do temporal é o mundo etérico. Por isso a importância dos exercícios em que se vivencia o ciclo de crescimento e fenecimento das plantas. Estes são exercícios adequados para despertar para o mundo etérico, para o mundo do ritmo onde vive Micael e também o Cristo. Este é o ambiente do Calendário da Alma. Qual a relação entre o Calendário da Alma e o
Pensar do Coração? Existem vários níveis do Pensar:
- Tipo sim ou não, isto ou aquilo, como por exemplo, a frase: Só posso conhecer aquilo do qual posso me distanciar.
- Tipo isto e aquilo, unificação de conceitos, tendo como exemplo a frase: Só posso conhecer aquilo com o qual eu me vinculo.
As duas afirmações estão corretas, não é pensar ou sentir, mas sim pensar e sentir. Na Antroposofia trata-se de trazer as forças da cabeça para o coração. A atuação de Micael liberta os pensamentos da cabeça e os dirigem para o coração. Isto proporciona o entusiasmo pelo encontro com uma ideia. O entusiasmo não vem de uma vivência mística, mas sim de uma absoluta clareza de pensamentos.
O Calendário da Alma é o caminho para alcançar este tipo de pensamento.
Quando da primeira edição do Calendário da Alma, depois da palestra de Heinz Zimermann, comecei a me ocupar com o Calendário em seu aspecto quadruplo.
O movimento de aproximação e afastamento entre os versos no decorrer do ano foi mostrando uma geometria presente na organização numérica espacial do Calendário.
Ao tentar explicar para outras pessoas o espelhamento e a equivalência entre os hemisférios, percebi a falta de uma imagem esclarecedora. Então tentei apresentar graficamente as relações e o movimento que percebia e, com surpresa, cheguei a este gráfico, que tem se mostrado útil para os que se propõe a acompanhar com suas almas o decorrer do ano em seu aspecto quadruplo integrado.
Convidamos para o seminário online O Calendário da Alma de Rudolf Steiner, com condução de João Torunsky, um caminho pelos 52 versos seguindo os ritmos da natureza no Brasil. O primeiro encontro será no dia 22 de setembro e seguirá pelos doze meses seguintes. Mais informações e inscrições pela área "Agenda de Eventos" do site da Sociedade Antroposófica no Brasil.
Marilda Milanese é farmacêutica formada pela USP e Aconselhadora Biográfica pela Escola Livre de Estudos Biográficos, de São Paulo. Docente em cursos de formação antroposóficos em diversas áreas e conferencista em temas de antroposofia geral. Fundadora e diretora da Sirimim e da Farmantropo. Dedica-se continuamente ao Calendário da Alma nos últimos 20 anos.