ENTRELAÇADOS PELO TEMPO E PELO SULCO DA TERRA
por representantes da Seção de Jovens
no Brasil

A Seção de Jovens, da Sociedade Antroposófica do Brasil, pulsa como um coração jovem e vibrante, cujo ritmo ecoa entre montanhas e mares, interiores e capitais, vales e ladeiras. Somos uma rede viva, um tear em constante movimento, onde cada fio carrega um sotaque, uma memória, uma paisagem. Estamos em muitos cantos do Brasil — e também além — e fazemos do encontro uma morada possível.

Nos encontramos nas diferenças: nas histórias que carregamos, nos caminhos que trilhamos, nos saberes que nos cercam. Somos jovens entre 18 e 31 anos — idades que dançam entre a efervescência do começo e a maturidade do limiar. Em nossas reuniões, essa amplitude de idades não cria distâncias, mas pontes. Enquanto uns chegam com a centelha do ineditismo, outros trazem o fogo cultivado da experiência. E nesse diálogo, o tempo se desfaz como barreira — torna-se espiral.

Há quem cresceu ouvindo o som das ondas, quem caminha entre prédios altos, quem contempla o cerrado ou cruza as estradas longas do interior. Cada qual traz seu pedaço de mundo, e juntos, fazemos do encontro um continente novo, invisível aos mapas, mas real em cada gesto e intenção.

Carregamos conosco o impulso de levar a Antroposofia aos nossos pares, aos nossos tempos, aos nossos contextos. E nessa tarefa, o tempo cronológico se curva diante do tempo do encontro — kairos — quando o espírito reconhece o espírito. Somos jovens de agora, mas também somos ecos e sementes. Em cada conversa, em cada escuta atenta, nasce uma nova possibilidade de mundo.

Vivemos um presente que se alonga, que se espalha como raízes em terra fértil. Ao nos conectarmos, algo maior nos envolve: uma escuta que transcende fronteiras, um pensar que respeita os ritmos de cada biografia, um sentir que acolhe sem exigir uniformidade. Somos muitos, mas somos uno no gesto de caminhar juntos.

E assim, seguimos: não como quem já chegou, mas como quem se alegra em estar a caminho. Pois há uma juventude que não se encerra na idade, mas se revela no gesto de perguntar, de construir pontes, de confiar no invisível e no vir-a-ser.

Travessia

Pelos rios do tempo navegamos,

com bússolas feitas de intenção,

de tantas terras nos encontramos

na juventude do coração.

Idades como estações do vento,

culturas bordadas de chão,

mas é no silêncio do encontro

que pulsa a nossa canção.

Somos o sonho que se escuta

nas frestas da madrugada,

um chamado que não se cala,

uma esperança entrelaçada.

Caminhamos por dentro e por fora,

entre o íntimo e o coletivo,

e quando o gesto é verdadeiro,

o invisível se torna vivo.

Seguimos como quem semeia

em solo antigo e sagrado,

sabendo que cada jornada

é também um gesto ofertado.