AS FESTAS JUNINAS E SÃO JOÃO
por Laila Morais e Luiza Lameirão
por Laila Morais e Luiza Lameirão
É chegado o tempo em que as noites ficam maiores do que o dia, o céu, por conta do tempo seco, fica limpo e as estrelas convidam a contemplá-las.
No mês de junho, as tradicionais festas cristãs celebram São Pedro, Santo Antônio e São João. A elevação do mastro com a imagem dos três, as bandeirinhas penduradas e a fogueira, trazendo calor, luz e erguendo da terra para o céu sua chama, são costumes que chamam, especialmente em São João, a olhar para o alto…
As festas joaninas, específicas para João, se diferenciam das juninas, que celebram todos os santos do mês. A festa de São João tem muitos costumes vinculados à cultura da colheita. No Brasil se caracteriza pelas comidas típicas feitas de milho e raízes, como: pipoca, curau, fubá, canjica, pamonha, milho cozido, batata doce, mandioca e tantas outras!
É na fogueira onde se assam os frutos da terra e ao redor se dança, se canta e há brincadeiras, fortalecendo os encontros. Na realidade rural os corajosos a pulam e, ao realizar essa façanha, deixam de ser crianças.
São João Menino
Aqui,
na noite antiga de garoa e frio fino,
subiam balões de luz
em honra do primo de Jesus,
São João Menino.
E em nosso coração
cada balão,
subindo rápido e em linha reta,
era o próprio João Menino
se transformando em João Profeta.
Era o profeta
que parecia o clarão da madrugada,
antecedendo a chegada
do grande Sol nascente, da maior luz:
o Cristo Jesus.
Ruth Salles
Roda de Junho
Senhor São João,
me venha ajudar,
que as minhas mazelas
eu quero deixar,
e os reinos da terra
perder sem pesar!
No fogo do chão,
no fogo do ar,
queimei meus pecados
para lhe agradar!
O seu carneirinho
prometo enfeitar
com rosas de prata,
jasmins de luar,
servir-lhe de joelhos
bem doce manjar!
Em águas de rio,
em águas de mar,
Senhor São João,
me venha banhar!
A noite da festa
não deixe passar!
Não durma, Santinho,
no céu nem no altar!
Quem está padecendo
não pode esperar!
Cecília Meireles
As artes sociais são as artes do encontro. Tocar, cantar, dançar, fazer música são tipicamente artes sociais; elas são enaltecidas na Festa de João. Quando cantamos, ouvimos a nós mesmos e aos outros. Quando dançamos, encontramos com o outro.
Lameirão, L.: Ao longo do ano: atmosferas, reflexões, festividades. 2. ed. São Paulo: Editora João de Barro, 2019. p. 36.
Luiza Lameirão nos leva a refletir como João, um filho único, um eremita que viveu isolado de tudo, é celebrado com uma festa tão social? Uma festa altamente social no nosso país, quando a comunidade se junta para festejar a terra e convida a todos a se unir. Se para ele em cada ser humano vive o divino, então, o encontro com o outro é o encontro com o divino. Isso faz a festa de São João ser pura união e coletividade.
De um lado, esta época do ano tem o aspecto coletivo – da colheita, do compartilhamento dos frutos da terra, do canto, da dança – por outro, há o convite para um caminho de introspecção onde surge a pergunta: o que estou fazendo para mim mesmo, e para a terra?
Haja trabalho próprio, haja verdadeiros encontros (...). No momento em que estamos diante do outro e conversamos, nessa troca, é como se respirássemos e, portanto, saíssemos da solidão. Essa busca por encontrar o espelho no outro - e a possibilidade de compor o espaço interno, por meio da respiração que pode acontecer em um autêntico encontro - é uma característica da nossa época.
Lameirão, L.: Ao longo do ano: atmosferas, reflexões, festividades. 2. ed. São Paulo: Editora João de Barro, 2019. p. 28.
Vivamos a alegria do
encontro na festa de João!