SER MEMBRO: UMA ESCOLHA LIVRE E CONSCIENTE
por Claudia Lessa, Marina Dick e Laila Morais

Os primeiros membros da Sociedade Antroposófica, durante sua fundação na virada de ano de 1923 para 1924, eram convidados, cujos nomes foram indicados pelo próprio Rudolf Steiner. Em sua maioria, eram representantes da antroposofia em seus locais de moradia. Nunca houve uma determinação do que os membros deveriam fazer, a não ser, é claro, do núcleo administrativo e da diretoria, que desde aquela época já existiam e tinham seus afazeres. Neste núcleo estava Marie Steiner, que cuidava de toda a parte de arquivos e documentação e também organizava as viagens de Steiner. A intenção era que cada membro pudesse, de alguma forma, levar a antroposofia para onde estivesse. Alguns membros organizavam cursos e palestras com o próprio Steiner e já havia muitas iniciativas antroposóficas locais acontecendo, como escolas e clínicas médicas. Este movimento inicial estava em construção e como um movimento vivo, se expandia cada vez mais em novas iniciativas e pesquisas. Cada Sociedade, em cada território, foi se adequando às suas particularidades e a sua época.

Desde a fundação da Sociedade, Rudolf Steiner colocou uma única condição sine qua non para entrar na Sociedade: reconhecer a importância de Dornach e do Goetheanum como centro do movimento antroposófico. Era esperado também que os interessados em se tornar membros se sentissem vinculados de alguma forma à antroposofia, não existindo qualquer tipo de discriminação nem interferência no âmbito pessoal, respeitando o ser humano em sua humanidade como um todo e sua liberdade de escolha.

O que é ser membro?

Em primeiro lugar está o zelar pela “vida anímica” que resulta do “conhecimento antroposófico”, e isso deve ocorrer tanto no que diz respeito ao ser humano individual quanto na coletividade. (...) O que importa na antroposofia são as verdades que podem ser reveladas por ela; o que importa na Sociedade Antroposófica é a vida que nela se cultiva. Prokofieff, Sergej O.: Por que Alguém se Torna Membro da Sociedade Antroposófica. 1. ed. São Paulo: Editora Antroposófica, 2014.

Quando várias pessoas procurarem em conjunto o espiritual numa atitude de autenticidade interior, também encontrarão os caminhos que as conduzem umas às outras, uma alma à outra. Steiner, R. GA 260A, em trecho de carta aos membros sobre como devem ser as reuniões na Sociedade, em 3 de fevereiro de 1924.

Quando perguntadas o significado de ser membro, Marina Dick e Claudia Lessa responderam:

É muito interessante que muitos membros mencionam que querem se tornar membros como um gesto de gratidão por tudo que a antroposofia já fez em suas vidas. Marina Dick, responsável pelo atendimento aos membros desde 2014.

A Sociedade é uma sociedade de pessoas, não de instituições. Imagino a Sociedade como uma grande construção, porque esse caminho está vivo, acontecendo. Nessa construção tem aquele que sabe lidar com cimento, o que faz a porta, o vidraceiro, o arquiteto, tem o que faz lanchinho, quem traz as flores, tem quem cuida do jardim. Pessoalmente, eu me sinto muito honrada em ser membro da Sociedade, e também da Primeira Classe, e muito grata por tudo. Mas fundamentalmente, uma palavra que eu acho que é muito importante trazer é a questão da responsabilidade. Quando eu penso em uma responsabilidade diante de tudo o que a antroposofia nos proporciona e tudo o que nós podemos proporcionar ao mundo e aos outros através dela, isso traz esse senso de responsabilidade amorosa. Eu percebo assim. É um tesouro no meu coração. Claudia Lessa, Diretora Cultural 2018/2021.