PEDRA FUNDAMENTAL - UMA PERSPECTIVA A PARTIR DE SERGEI O. PROKOFIEFF
por Simone Facure
por Simone Facure
Quando Sergei O. Prokofieff entrou em contato com a meditação da Pedra Fundamental em alemão, ele disse que ocorreu um milagre comparável somente ao despertar de um sono profundo. Linguagem e conteúdo apareceram para ele de maneira indissolúveis: Estas são as palavras do Cristo dirigidas para cada alma humana. Prokofieff cita pelo menos 12 pontos de vista por onde podemos observar a Pedra, traremos aqui de um deles. Além disso, Rudolf Steiner nos ensina que devemos meditar a Pedra como se a estivéssemos ouvindo, mas é um escutar “por trás das palavras.” Como podemos fazer isso?
Rudolf Steiner dá esse ensinamento em seu livro “O Conhecimento dos Mundos Superiores”. Temos de nos habituar ao silêncio que mantém o sagrado e ele está relacionado com a mais íntima humildade no homem. Precisamos de muito tempo até conseguirmos nos ajustar a nós mesmos, a esse novo observador externo que ainda é recém-nascido em nós. Quando chegamos neste estado de meditação, percebemos que “chove Manas”, que a Inteligência Micaelica está sendo derramada na Terra a todo momento. Desde o Mistério do Gólgota Cristo está presente e fala com a humanidade, mas nem sempre nós conseguimos ouvir ou ver sua luz.
Vamos para um dos pontos de vista de Prokofieff sobre a Meditação da Pedra Fundamental.
Nós escutamos frequentemente que a humanidade já cruzou o limiar. Cruzar o limiar é uma experiência de morte, é dar um pulo no escuro. E quando vivemos isso? Bem, se já cruzamos o limiar, nós estamos experimentando isso. Essa experiência pode ser um aprender a lidar com a morte, olhar a morte de uma maneira mais consciente e se preparar para ela. Nós fizemos isso em um passado distante, mas, hoje em dia, essa é uma das grandes questões humanas. Será que estamos preparados para a única coisa certa que vai acontecer conosco? Existe esse preparo? Já sabemos que vivemos pequenas mortes ao longo do dia, o sono é uma pequena morte, cada vez que expiramos também vivenciamos essa pequena morte, na sístole e na diástole também.
No entanto uma outra vivência não menos real desse cruzar o abismo, se pensarmos que cruzar o abismo significa sair da experiência da consciência dos sentidos e pular para uma outra margem, acontece em todos os processos de decisão. Permanecemos neste trabalho? Onde colocar as forças? Quem escolhemos nesta caminhada na Terra? Onde está o destino?
Todo processo de decisão é um pulo no abismo. Por mais que calculemos tudo, nunca saberemos se, quando pular, as asas realmente irão se abrir e nos sustentar até o outro lado. Também nunca saberemos o que encontrar na outra margem.
Então, cruzar o abismo pode ser uma experiência de morte ou pode acontecer toda vez que decidimos algo. Os dois são pulos no abismo.
Acontece que desde o Mistério do Gólgota, desde a morte e a ressurreição do Cristo, esse abismo não está mais no escuro, ele está iluminado pela Luz do Cristo. Cristo desceu até a última camada da Terra, lá instalou a sua presença e voltou iluminando esse abismo. O abismo agora, está iluminado. O que significa isso? Significa que podemos pular e perceber onde essa decisão irá reverberar, em ondas, carmicamente, caso consigamos ver essa Luz. Com isso temos a chance de tomar atitudes mais morais. É sobre isso que Rudolf Steiner dizia quando descrevia que o Cristo se tornou o senhor do carma.
Nós temos a segunda parte da Pedra Fundamental que diz: “Pratica o meditar do Espírito no equilíbrio da alma", então neste ato de meditar, que é uma das poucas ações livres do ser humano, “no equilíbrio da alma, onde em ondas os atos evolutivos cósmicos reúnem o próprio eu ao Eu Cósmico, e em verdade sentirás”, neste momento percebemos o Cristo tecendo, em ondas, o carma da humanidade e unindo o carma humano ao próprio Cristo. Isso mostra o Cristo tornando-se o senhor do carma, mas, para que isso possa acontecer, também precisamos nos unir ao Cristo e, para isso é preciso poder ver. Enquanto não vemos, não somos livres. Sem liberdade estamos no carma antigo, lunar. Essa Luz iluminando o abismo mostra que temos a chance de ver onde cada ação vai nos levar e decidir se seguimos ou não com o Cristo. É disso que se trata a segunda parte da meditação da Pedra Fundamental. Ela mostra o Cristo como Senhor do Carma unindo o nosso destino a Ele.
Vamos agora para a quarta parte da Pedra Fundamental, que mostra essa Luz que, a partir do Mistério do Gólgota, já está presente iluminando o abismo. Nela, Rudolf Steiner diz: “Na transição dos tempos”, ou seja, no Mistério do Gólgota, “entrou a Luz Espiritual Cósmica no terrestre caudal dos seres”. Com essa Luz espiritual cósmica, ele está se referindo à Luz da Sofia, do maior Kyriotetes, a Alma do Cristo, com sabedoria trazendo luz para a Terra. Depois ele continua: “Clara Luz diurna irradiou em almas humanas”. Com isso, ele está se referindo a Luz de Micael, que agora tornou-se um ser diurno, dando-nos a chance de perceber essa luz com consciência, com os olhos abertos, em pleno domínio dos órgãos sensoriais. Micael está nos ajudando a ver o espírito no mundo da matéria. Continuando esse caminho, Steiner fala: "Luz que aquece os pobres corações de pastores", e agora ele está falando do Nirmanakhaia do Buda, da Luz de Buda iluminando nossos corações. Ele está falando de uma das correntes espirituais. Depois ele continua: “Luz que ilumina as sábias cabeças de reis””, se referindo a Zaratustra iluminando com sabedoria as cabeças de reis, levando-nos agora para a outra corrente espiritual. Temos sempre essa luz no abismo, que nos permite sermos guiados por vários seres que estão completamente unidos ao Cristo, iluminando esse abismo. Dando seguimento, ele fala: "Luz divinal" e com isso ele está se referindo a Alma Natânica que nos pega pela mão e conduz pelo abismo, ela sempre fez isso. E, por fim: "Cristo-Sol", unificando, como fonte geradora de todas essas luzes. Então na última parte da Meditação da Pedra Fundamental, ela nos dá todas essas formas de luz que iluminam esse abismo. A grande questão é que a Luz está ali, mas nós não conseguimos vê-la. Por que não conseguimos vê-la? Como foi dito no prologo de João: “E a luz resplandeceu e as trevas não há compreenderam. Se o mundo espiritual é cheio de luz, por que só encontramos escuridão? Porque se trata de nossa própria escuridão que no limiar se torna objetiva e se reflete de volta em nossa direção” (Prokofieff)
Temos ainda na Pedra, uma primeira parte e uma terceira parte. Esses dois caminhos se referem a correntes espirituais que o homem seguiu para se desenvolver até aqui. Uma que leva para o passado e outra que leva para o futuro.
Existe o caminho da primeira estrofe que fazemos mergulhando dentro das nossas existências anteriores onde é falado, na primeira parte da Pedra Fundamental: “Pratica o recordar do espírito nas profundezas da alma onde no imperante subsistir criador cósmico, o próprio eu exsurge no eu divino.” Nesta estrofe Rudolf Steiner nos conta sobre nossa corrente encarnatória, onde recordamos nossa linhagem espiritual. Quando isso acontece acordamos para quem foi Rudolf Steiner, para seu sacrifício, acordamos para a luta de Micael, para a Escola de Micael no Sol e chegamos até Antigo Saturno, onde fomos gerados. Quando chegamos lá, no sacrifício dos Tronos, não estamos mais no passado, estamos na Meia Noite Cósmica, na eternidade. Escutamos a fala do Deuses, “Ex Deo Nascimur” ou então “A Fala Dos Deuses Gera-Me” e isso é na eternidade, é neste instante de eternidade, no presente. Quando mergulhamos nas encarnações passadas tudo se torna claro e sabemos quem fomos e quem somos, na eternidade. Isso é a primeira parte da Pedra Fundamental.
Vamos mergulhar agora na terceira parte da Pedra Fundamental onde Steiner nos leva para o futuro, aonde vamos para a região do Devachan Superior, nas paragens das estrelas, nas moradas dos Deuses, além do zodíaco e lá podemos observar as Metas Eternas dos Deuses que, em verdade, é o próprio ser humano. Ao observar isso nesta corrente do futuro, que vai para além do zodíaco, nos encontramos na mesma região da meia noite cósmica, na eternidade. “Na margem distante de existência divina brilha para os Deuses o Templo que é sua mais alta realização artística, representando um reflexo da existência divina na imagem do homem. Não sabeis vós que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (Prokofieff)
Então, quando fazemos esse caminho de ir para o passado e também de ir para o futuro, ali chegamos no presente e o Eu só se faz no presente, que é a região da segunda estrofe da Pedra Fundamental. Antes de chegar aqui, precisamos fazer este caminho e unificar em nós estas duas correntes. Quando conseguimos isso, mesmo que em proporções pequenas, a cada instante de eternidade, temos um vislumbre desta luz e conseguimos perceber essa luz que já existe no abismo.
Referencial bibliográfico | Sugestões de leituras
May Human beeings hear it - The Mystery of the Christmas Conference, de Sergei Prokofieff (Ed. Temple Lodge, em inglês)
The Mysteries of the Future - A study of the work of Sergei O. Prokofieff, de Peter Selg (Ed. Wynstones Press, em inglês)
Pedra Fundamental e Seus Ritmos, de Rudolf Steiner (Editora João de Barro, disponível em: https://www.antroposofica.com.br/listaprodutos.asp?idproduto=1345629&q=pedra-fundamental-e-seus-ritmos---rudolf-steiner)
Simone Facure é formada em Ciências Biológicas, Ecologia e Pedagogia. Tem formação em Pedagogia Waldorf e Pedagogia Curativa. É fundadora da Escola Waldorf Veredas, da Escola Livre Sofia e da Associação Prokofieff. É diretora pedagógica da Escola Waldorf Jardim das Amoras e do Berçário Amorinhas.