AS MÁXIMAS ANTROPOSÓFICAS. O CAMINHO DE CONHECIMENTO DA ANTROPOSOFIA. O MISTÉRIO DE MICAEL.
por Rogério Y. Santos
por Rogério Y. Santos
“No futuro, deve-se encontrar aqui uma espécie de máximas antroposóficas [como pensamentos orientadores]. Elas devem ser entendidas como contendo conselhos sobre a direção que as palestras e reuniões nos diversos grupos da Sociedade [Antroposófica] podem tomar por meio dos membros dirigentes. Nesse caso, trata-se apenas de um estímulo que se gostaria de dar, a partir do Goetheanum, à Sociedade como um todo. A autonomia na atuação de cada um dos membros dirigentes não deve ser comprometida por isso. É algo bom que a Sociedade se desenvolva de tal forma que, de maneira completamente livre, se possa expressar aquilo que, nos diversos grupos, os membros dirigentes têm a dizer. Com isso, a vida da Sociedade será enriquecida e se configurará nas mais diversificadas formas. Deveria, no entanto, poder surgir na Sociedade uma consciência homogênea. [...]”
Rudolf Steiner (GA 26, carta aos membros de 7/2/1924)
Com essas palavras, Rudolf Steiner descreve, em uma de suas cartas aos membros da Sociedade Antroposófica, as intenções em publicar as 185 “máximas1 antroposóficas” (“anthroposophische Leitsätze”).
Essas máximas antroposóficas expressam, em pensamentos condensados, o caminho do conhecimento da antroposofia e para a compreensão do sentido que o mistério de Micael tem para o desenvolvimento da humanidade. Elas começaram a ser publicadas por Rudolf Steiner no semanário Das Goetheanum logo após o Congresso de Natal de 1923/24 e fundamentam aquilo que no futuro deve emanar, como pensamentos-guia, do Goetheanum para os membros da Sociedade Antroposófica.
Olhemos para alguns pensamentos que aparecem nessas palavras introdutórias.
Fala-se de um estímulo que essas “máximas” podem oferecer aos grupos que atuam dentro da Sociedade Antroposófica. Vemos que esse incentivo quer trazer um impulso para o aprofundamento de temas antroposóficos encontrados na vasta obra geral publicada. Tal material de pesquisa pode trazer substância de vida e conhecimento a todos os grupos que se reúnem para o cultivo da antroposofia: ao âmbito meditativo, à autoeducação e aos campos da vida prática ampliados pelo conhecimento da própria antroposofia. Neste sentido, as “máximas” devem ser entendidas muito mais como pensamentos que atuam como estímulos, do que pretendendo apresentar conclusões.
Ao se dirigir aos membros que conduzem as atividades nos grupos, Rudolf Steiner chama a atenção para a necessidade de buscar o equilíbrio entre duas polaridades que devem coexistir na concretização do trabalho antroposófico. A primeira relaciona-se à autonomia que cada grupo deve encontrar em seu trabalho. Entende-se que essa autonomia deve estar livre de qualquer forma de dogmatismo. O aprofundamento que se deseja alcançar deve possibilitar que cada grupo encontre sua forma de acolher e vivificar os conteúdos antroposóficos.
A segunda polaridade indica que essa autonomia no atuar necessita encontrar aquilo que Rudolf Steiner chama de consciência homogênea, ou seja, uma base comum de entendimento e fidelidade aos fundamentos oferecidos pela ciência espiritual, para que a autonomia dos grupos possa prosperar de forma correta e coerente com sua fonte – a Antroposofia.
O mistério de Micael
Dentre as “cartas aos membros”, podemos encontrar as assim chamadas “cartas micaélicas” que estimulam pensamentos sobre o ser de Micael e ajudam na compreensão de sua missão. São apresentados diversos pontos de vista para essa compreensão. Nestas cartas, podemos encontrar a descrição da tarefa de Micael na esfera de Árimã, sua atuação para o futuro da humanidade, a vivência humana de sua entidade e da entidade do Cristo em nossa época, a questão da liberdade humana e a realidade dos pensamentos. A seguir selecionamos alguns excertos encontrados nas “cartas micaélicas” de Rudolf Steiner aos membros da Sociedade Antroposófica.
“No irromper da era de Micael”
“Carta aos membros” de 17/8/1924
Micael é o ser espiritual que acompanha o ser humano desde a sua origem. Desde o século XIX a inteligência pessoal e individual passou a luzir nas almas humanas. O ser humano passa então a sentir: “eu formo meus pensamentos”. Mas muito antes, a partir do século IX, com os escolásticos, os seres humanos já deixavam de sentir que Micael lhes inspirava os pensamentos. Já nesta época, os pensamentos haviam se precipitado do mundo espiritual para as almas humanas individuais. Os que seguem Micael devem deixar que ele habite seus corações, consagrando a ele sua vida espiritual portada pelos pensamentos – deixam-se instruir por Micael em sua vida de pensamentos livres e individuais, sobre os caminhos corretos da alma. Sob a inspiração de Micael, nos encontramos no irromper de uma nova era. Micael está particularmente envolvido na transformação desse pensar humano. No alvorecer desta nova consciência, o ser humano pode se colocar no caminho de fazer do coração a sede do seu pensar.
“A tarefa de Micael na esfera de Árimã”
“Carta aos membros” de 10/10/1924
A força da alma transformou-se em força da inteligência e os pensamentos perdem vivacidade ao vincular-se ao corpo físico humano; aparecem como algo morto e abstrato na consciência humana. Nesta ‘descida’, o ser humano desloca-se agora para a esfera da influência arimânica. Fosse de outra forma, o ser humano não poderia desenvolver o livre querer. Micael assumiu, nessa condição, a direção espiritual da humanidade e pode atuar como a face do Cristo, cuja vinda a partir do Sol oferece ao ser humano a possibilidade de superar por si o perigo ao qual tem de estar exposto, se ele deve ser um ser livre.
Para saber mais sobre o GA 26²
Pelo boletim informativo Das Goetheanum, órgão da Sociedade Antroposófica Geral, Rudolf Steiner divulgou semanalmente as máximas antroposóficas aos membros da Sociedade. No mesmo semanário Das Goetheanum, foram publicadas entre 13/1/1924 e 12/4/1925 as 66 cartas que Rudolf Steiner escreve aos membros da Sociedade, conhecidas por ”cartas aos membros”.
As 185 máximas antroposóficas foram publicadas no GA 26. Na edição anterior a 2024 estavam publicadas, juntamente com as “máximas”, 35 ”cartas aos membros”, dentre elas aquelas que se relacionam ao mistério de Micael e que ficaram conhecidas como ”cartas micaélicas”.
Atualmente o GA 26 encontra-se disponível na Sociedade Antroposófica, em dois volumes sob a forma de apostilas (‘Máximas antroposóficas’ e ‘O mistério de Micael’), com tradução colaborativa de vários antropósofos.
Sobre a nova edição do GA 26 (2024) em Dornach
Por ocasião do centenário da publicação das “máximas antroposóficas” em 2024, foi lançada em Dornach uma edição ampliada do GA 26. Nesta nova edição, foram inseridas as demais 31 “cartas aos membros” que não constavam na edição anterior. Assim, a nova edição do GA 26 passa a conter integralmente as 66 cartas3 escritas por Rudolf Steiner aos membros da Sociedade Antroposófica.
A nova edição do GA 26 no Brasil
Uma nova tradução do GA 26, baseada nessa nova edição ampliada, está sendo preparada pela editora Antroposófica, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2026. Em novembro de 2025 terá início na Sociedade um seminário sobre as “cartas micaélicas” tendo como base os textos desta nova tradução.
Notas explicativas:
¹ Também conhecidas por diretrizes, princípios orientadores ou frases-guia.
² Volume 26 da obra geral de Rudolf Steiner. GA = Gesamtausgabe.
³ Dezenove das cartas inseridas na nova edição já constavam no GA 260a e foram publicadas em 2024, no Brasil, sob o título Cartas aos membros, com tradução de Sonia A. L. Setzer.
Rogério Y. Santos, atuando na área de TI por mais de 40 anos, é o responsável pelo Portal de Informações da Sociedade Antroposófica. Um dos coordenadores do Ramo Rudolf Steiner de São Paulo, tem feito co-traduções de obras de Rudolf Steiner e atualmente é um dos três secretários-gerais da Sociedade Antroposófica no Brasil, para o período de 2022-2029.