“O segredo destas flores fechadas é que exatamente
no primeiro dia da primavera elas se abrem e se dão ao mundo.”
Clarice Lispector

 

Queridas e queridos leitores, membros e amigos da Sociedade Antroposófica no Brasil. É com imensa alegria que publicamos mais uma edição da revista digital ECOS.

Aproveitamos o mês de julho para revisitar o caminho percorrido desde a retomada das publicações, em dezembro de 2023. Essa caminhada envolveu também uma retrospectiva, passando por alguns dos boletins e periódicos de tempos atrás, impulso que iniciou sob os cuidados de Karin Glass. Tivemos como ponto de partida a formação da imagem do que seria desejável para ECOS: quais qualidades, sentimentos, cores, formatos e movimentos poderiam estar presentes? Esse trabalho permanece em construção, contendo alguns pontos centrais: acessibilidade, tolerância, interação, fluidez, leveza, diálogo, simplicidade, dinamismo. Tateando e definindo contornos, vislumbramos um processo dinâmico, adaptável, conectado com as linguagens e questões da nossa época, em sintonia com a Declaração de Princípio da Sociedade Antroposófica no Brasil.

Um dos primeiros resultados dessa imersão, incorporados à essa edição, é a agilidade na leitura, permitindo conexão em diferentes dispositivos. A acessibilidade foi ampliada de forma que o conteúdo possa ser lido no navegador Edge, da Microsoft, o que permite algumas configurações especiais. O aplicativo permite leitura em voz alta, tradução para outros idiomas, escolha de fontes, tamanhos e cor, dentre outras opções de facilitação.

A temática de como ter equilíbrio entre o ritmo temporal da natureza e o curso atemporal da vida da alma é transversal e perpassará todas as edições. Observar o ritmo e a alternância das estações do ano, que se apresenta qual o processo de inspiração e expiração, ou mesmo do movimento de uma lemniscata – interior/exterior – é “uma imagem primordial da atividade da alma humana e (...) fonte frutífera de um autêntico autoconhecimento”. (Rudolf Steiner, Calendário da Alma – 2ª edição, 2011. Ed João de Barro). 

Qual poderá ser o aprendizado na vivência do equinócio – tempo em que, por duas vezes no ano, o período de duração dos dias e das noites é igual –, o de primavera, no hemisfério sul, e o de outono, no hemisfério norte?

***

De setembro de 2024 a março de 2025, ECOS acompanhará o período que marcou o recolhimento de Rudolf Steiner até a sua morte, há exatamente um século.

Nesse tempo, acolheremos percepções de nossos leitores a partir da vivência de cada um com a antroposofia. 

Convidamos que se inspirem na pergunta a seguir e que contem para nós, por meio de pequenas observações, textos ou frases: Como a vida de Rudolf Steiner se encontrou com a minha?

Envie sua resposta para o e-mail: comunicacao@sab.org.br, indicando como assunto “ECOS Rudolf Steiner”


Desejamos uma ótima leitura!

Sonia A.S. Teixeira, diretora social e de comunicação da Sociedade Antroposófica no Brasil,
em nome da Equipe Editoral de ECOS

Salve, Micael!
por Carmen Ligia Nobre

Micael é um ser espiritual peculiar que não nos revela nada. Na verdade, ele aguarda a ação do ser humano gerada a partir de si. Ele espera que o ser humano lhe entregue algo que seja fruto de seu próprio trabalho interior. 

Micael é um espírito reservado e silencioso. É taciturno. Ele dá poucas indicações do caminho a ser seguido. E aquilo que é revelado por Micael  não vem através de suas palavras, mas sim pelo poder e pela direção do seu olhar. 

Micael convida o ser humano a se conhecer: “Ó homem, conhece-te a ti próprio.” Esse chamado silente reverbera na alma humana. E quando o ser humano atende ao chamado de Micael, passa a trabalhar sobre si, aprimorando seu ser.

Micael estimula a coragem de agir do ser humano para que ele atue em plena liberdade. Por isso não lhe dá muitas explicações do que deve ser feito. Micael aguarda o livre atuar do ser humano na Terra. Ele se preocupa com que o é criado a partir do espírito. 

A Micael não importa o motivo da ação, nem mesmo a causa. O que é importante para Micael é o impacto causado pela ação humana a partir da motivação espiritual

O que vem do passado, o que é herdado, foi recebido como dádiva dos deuses, portanto não é fruto da ação criadora livre do ser humano. Essa repetição do passado não é o que Micael espera do ser humano e sim o que ele pode criar, a partir de si, vinculado ao mundo espiritual, em prol da evolução da humanidade no futuro.

Reflexões a partir do GA 233a, de Rudolf Steiner

A notícia do falecimento de Prokofieff suscitou-me o desejo de reencontrá-lo nas palavras por ele escritas na introdução de seu livro “Rudolf Steiner e a Fundação dos Novos Mistérios Cristãos”. Ali ele deu a conhecer algumas passagens de sua vida na esperança de que o aspecto objetivo que subjaz à condução espiritual de seu destino humano... LEIA MAIS AQUI.

Quando Sergei O. Prokofieff entrou em contato com a meditação da Pedra Fundamental em alemão, ele disse que ocorreu um milagre comparável somente ao despertar de um sono profundo. Linguagem e conteúdo apareceram para ele de maneira indissolúveis: Estas são as palavras do Cristo dirigidas para cada alma humana... LEIA MAIS AQUI.

EM DIREÇÃO A UMA EURITMIA BRASILEIRA -
CAMINHOS TRILHADOS
por Marília Barreto

Desde o início do movimento antroposófico nestas terras, o Brasil teve a sorte de sempre poder contar com a presença da Euritmia, esta arte tão cara a Rudolf Steiner, que muito tem contribuído para a consolidação das propostas de Steiner para a sociedade em geral.

Talvez a presença mais notável entre os profissionais europeus que inicialmente contribuíram para a implementação da Euritmia por aqui tenha sido a de Elisabeth Staeglich, professora de Euritmia na recém fundada Escola Higienópolis, nos anos 1950, hoje Escola Waldorf Rudolf Steiner, que deixou um legado inesquecível entre seus alunos e muito contribuiu para a vida da antroposofia na escola. Por aproximadamente 30 anos diversos outros euritmistas aqui estiveram, que dedicaram boa parte de suas vidas ao trabalho pela Euritmia no Brasil. A todos dedicamos nossa imensa gratidão!

Um momento decisivo, entretanto, foi marcado pelo retorno ao Brasil dos primeiros euritmistas brasileiros, ainda jovens, recém formados em escolas europeias, uma vez que ainda não havia aqui uma formação oficial e competente nessa arte. Foi no ano de 1988, quando esses euritmistas assumiram os trabalhos como professores em algumas escolas Waldorf em São Paulo, mas, sobretudo, inauguraram um profundo trabalho de pesquisa para a construção de uma Euritmia genuinamente brasileira. Foi o então fundado Grupo de Euritmia de São Paulo que deu origem a essa etapa essencial da descoberta e consolidação de uma Euritmia calcada na língua portuguesa, como é falada no Brasil, e o que daí se desenrolou.

Considerando-se que a Euritmia está intimamente atrelada à palavra, portanto, ao idioma falado no país onde se desenvolve, a primeira grande ação desse grupo foi a de investigar a literatura de língua luso-brasileira, mas, acima de tudo, a alma deste povo, como ela se revela através de sua poesia, sua música, seus escritores e compositores. Por 14 anos seguidos o Grupo de Euritmia de São Paulo pesquisou, aprofundou descobertas, construiu espetáculos, visitou muitos rincões do país, da América Latina, da Europa e até dos Estados Unidos, levando a público suas apresentações, cursos e demonstrações. Gerou o solo para a fundação de uma escola de formação de euritmistas no país, bem como para a criação de uma Associação Brasileira dos Euritmistas, a ABRE, que representa oficialmente esta arte no Brasil. Foi ele também a fonte de inspiração para os trabalhos realizados com os alunos nas escolas Waldorf, e para a criação de novas iniciativas da Euritmia nos campos da arte, da educação, da terapia, do social e empresarial.

Os anos 2000 assistiram a incontáveis desdobramentos dessas primeiras ações, e hoje a Euritmia brasileira, realizada por muitos colegas Brasil afora, tem um lugar de destaque no mundo da antroposofia. Em especial no trabalho artístico com a juventude há no Brasil um diferencial notável, que tem levado novos jovens ao estudo da Euritmia, no Brasil, nos Estados Unidos e sobretudo nas escolas européias de formação. 

Para além de inúmeros projetos realizados nos últimos anos por diferentes grupos, que vêm colocando paulatinamente a Euritmia na cena artística brasileira, transpondo os limites das instituições familiarizadas com a antroposofia, o movimento eurítmico do Brasil vem agora encetar um passo inédito! O de apresentar ao mundo, em linguagem dos tempos atuais e num formato estético profissional, a Euritmia como uma arte inovadora e relevante para a cena brasileira.

Hoje, a ABRE tem a alegria de poder anunciar ao público aberto a exibição de um vasto panorama desta história tocante, expondo, através de um registro cinematográfico, com depoimentos de inúmeros colaboradores do Brasil e do exterior, o que foi feito em quase 40 anos de história da Euritmia brasileira, e quais caminhos apontam em direção ao futuro da Euritmia no Brasil.

Queremos convidar a todos que apoiam e apreciam a Euritmia a virem compartilhar estas conquistas conosco e desfrutar o lançamento do documentário.

O documentário será apresentado ao público no dia 27 de setembro de 2024, no auditório de Espaço Cultural Rudolf Steiner, em São Paulo. A programação desse evento acontece também com a participação da Sociedade Antroposófica no Brasil, constituindo a abertura das Festividades de Micael da Sociedade. A partir dali, pretendemos estender a exposição desse filme a novos espaços culturais, lançando a contribuição do Brasil à missão colocada por Rudolf Steiner aos euritmistas: a de que a Euritmia venha a expandir sua presença na sociedade contemporânea, tornando-se uma arte relevante para a formação do ser humano e da cultura de todos os tempos.

Sobre a Última Alocução de Rudolf Steiner
por Rogério Y. Santos

Em 28 de setembro de 1924, com a saúde já tão debilitada, que não conseguiu conclui-la, Rudolf Steiner proferiu em Dornach sua última palestra aos membros da Sociedade Antroposófica, que ficou conhecida como a ‘Última alocução’*.  Por ocasião do seu centenário, elaboramos o texto a seguir, como tentativa de trazer os principais pensamentos dessa conferência... LEIA MAIS AQUI.

Com certa frequência surge a pergunta sobre a distinção entre um Ramo da Sociedade Antroposófica e um Grupo de Estudos. Ora, já nos primeiros anos de sua atividade na Sociedade Teosófica, Rudolf Steiner fundou Ramos em diversas cidades, onde os membros da Sociedade se reuniam para estudos e onde ele mesmo proferia as palestras... LEIA MAIS AQUI.

O VERDADEIRO COMBATE
por Yuri Cetra, da Seção de Jovens no Brasil

No jardim de nossas almas crescem as rosas sob a luz dourada do fim da tarde.  Porém, esse aconchegante jardim florido, cercado por uma calorosa volição de abraços dos seres celestiais, sofre uma ameaça. Entre a névoa opaca da neblina e as nuvens cheias de cores, se revela a tal ameaça, dois dragões. Um dragão é tentador, em meio a riqueza, engana a alma, a levando apenas aos sentidos, num falso avanço para o futuro. Ele evoca a imagem em que o humano mata o espiritual e cria para si o Império do Enfermo, através da escravidão do intelecto morto e frio. O outro dragão é sedutor, maravilhado pela própria beleza, ilude a alma ao êxtase inconsciente, numa falsa lembrança do passado. Ele cria a imagem em que o humano inveja os deuses e quer, para si, o Reino Divino, através dos pensamentos que inflam o egoísmo e desprezam o destino coletivo da humanidade.

Então, entre o fatalismo da mecanização dos pensamentos, da indiferença dos sentimentos e na animalização das ações, o Sol dourado da autoconsciência resplandece, revelando o arcanjo Micael, que traz consigo a força do verdadeiro, do bom e do belo. Assim Micael brande a espada que alimenta o esforço consciente perante o erro e o mau, possibilitando o amor e a liberdade na missão existencial para cada personalidade poder voltar ao aconchego do Eu Sou Universal.

Mas mesmo na celebração de Micael, esses dragões se revelam como forças adversas. Um dos dragões ameaça a festa por se beneficiar que ela se realize apenas na realidade cognitiva, tornando a festividade em algo apenas conceitual, de maneira morta e fria, sem a pratica do impulso de Micael firmemente no cotidiano prático do querer. O outro dragão ameaça a festa por influenciar que ela se realize apenas na realidade volitiva, por uma necessidade de ação só pela ação, de uma maneira superficial e precipitada, sem a consciência cognitiva do que ela representa em sua importância.

O impulso de Micael, internamente, possibilita que cada um de nós, da escuridão dos abismos dos nossos corpos brote em nossas almas forças luminosas espirituais a partir de um esforço autoconsciente em liberdade. Ou seja, a Festividade de Micael pode ser conduzida, de maneira saudável, sendo uma manifestação material externa de uma vivencia anímico espiritual interna. A celebração sendo como um resultado da luta micaélica em cada um de nós quando acolhemos a força do conhecimento espiritual nas forças volitivas.


Referencial bibliográfico | Sugestões de leituras

"Pensamentos sobre Michael e Forças do Dragão", de Manfred Schmidt-Brabant
"O caminho iniciático: Os grandes guias da humanidade - A Escola de Micael antigamente e hoje", de Gudrun K. Burkhard (Edições Micael)
As influencias de Lúcifer e Ahriman - Rudolf Steiner (GA 191) 

Sobre o Calendário da Alma
por Marilda Milanese

O ciclo das estações do ano representa o processo respiratório do organismo da Terra, que inspira a alma do mundo no inverno e a expira no verão, de forma alternada, nos dois hemisférios terrestres. Assim, enquanto o hemisfério Norte inspira, o sul expira e vice-versa, formando a imagem da lemniscata: o que está dentro vai para fora, e o que está fora vai para dentro... LEIA MAIS AQUI.

Forjando a armadura
por Rudolf Steiner

“O que significa o que nas próximas décadas terá de se expressar da maneira mais terrível possível? Tratase de um lado, da exortação de colocar-se firmemente no solo que a nova vida espiritual quer fazer nascer e, de outro, dos lampejos daquilo que há bastante tempo vem sendo comentado entre nós: a aproximação do Cristo na forma em que ele terá de ser contemplado... LEIA MAIS AQUI.

Contemplação Meditativa


Clique nas setas para rodar o carrossel de imagens com representações de Micael.


EXPEDIENTE ECOS

Grupo Editorial e Projeto Gráfico: André Domínguez, Cláudia Lessa e Sonia A.S. Teixeira

POEMA

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

'Impressionista', de Adélia Prado

REFERÊNCIAS PARA AS IMAGENS DESSA EDIÇÃO


Imagem: Reprodução fotográfica da obra "São Miguel Arcanjo". Disponível no livro Mostra do redescobrimento: arte barroca. Nelson Aguilar, organizador. Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000.


Imagem: Reprodução fotográfica de Sergei O. Prokofieff. Disponível em: https://www.ilgiardinodeilibri.it/autori/_sergej-prokofieff.php#


Imagem: Reprodução fotográfica do Primeiro Goetheanum. Disponível em: https://www.mynewsdesk.com/goetheanum/pressreleases/impulse-for-cultural-renewal-the-first-goetheanum-as-a-community-building-3224563


Imagem: Reprodução fotográfica do espetáculo "Oblivion", encenado em 2012. Autoria desconhecida.


Imagem: Reprodução fotográfica de Rudolf Steiner. Disponível em: https://footnotes2plato.com/2022/12/22/thinking-with-rudolf-steiner/


Imagem: Reprodução digital de árvore em aquarela. Autoria desconhecida. Disponível no acervo digital interno de imagens da Sociedade Antroposófica no Brasil.


Imagem: Reprodução fotográfica da obra "Plate 170 - Michael, the Dragon and the Virgin on the Crescent Moon", de Liane Collot D'Herbois. Disponível no livro Liane Collot D'Herbois - Werk un Leben / Work and Life, de Raffael Verlag, Druck Offizin Scheufele, 2013.


Imagem: Reprodução fotográfica da capa do livro "Calendário da Alma", de Rudolf Steiner, 2ª edição, Editora João de Barro, 2011.


Imagem: Reprodução digital de arte em aquarela. Autoria desconhecida. Disponível no acervo digital interno de imagens da Sociedade Antroposófica no Brasil.

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