Euritmia

Fotos de Herbert Baratella, Gabriel Lehto, Gabriel Vollich e Rogerio Abbamonte

A Euritmia é uma nova corrente de movimento que vem sendo desenvolvida desde 1912. Ela baseia-se no conhecimento do ser humano e do mundo como apresentado na Ciência Espiritual de Rudolf Steiner, a Antroposofia. Seus movimentos são coreografias sobre a linguagem poética, em verso ou em prosa, e sobre a música instrumental, tocada ao vivo.


 Clique aqui para ver o vídeo produzido pela ABRE para celebrar os 35 anos da Euritmia no Brasil (2023).

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Por Marília Barreto

2023

1. Introdução

A Euritmia é uma nova corrente de movimento que vem sendo desenvolvida desde 1912. Ela baseia-se no conhecimento do ser humano e do mundo como apresentado na Ciência Espiritual de Rudolf Steiner, a Antroposofia. Seus movimentos são coreografias sobre a linguagem poética, em verso ou em prosa, e sobre a música instrumental, tocada ao vivo.


A Euritmia como ARTE

Como uma Arte do Movimento inovadora, a Euritmia foi desenvolvida por Rudolf Steiner e pesquisadores desde o início do século XX. Ela investiga a íntima relação do movimento com o som. A relação intrínseca do movimento eurítmico com a fala, como pesquisada por Rudolf Steiner, permitiu a criação de uma linguagem particular, apoiada na essência vital dos fonemas do alfabeto e em todos os aspectos que compõem a língua, para além de seu conteúdo semântico, como ritmos, dinâmica, inflexões dadas pela gramática, coloridos afetivos etc. No campo da música, essa relação essencial do movimento com as sonoridades musicais também permite a expressão coreográfica, em gesto e movimento cênico, dos elementos particulares que compõem a música, como a melodia, o intervalo, a dinâmica, o ritmo, a harmonia etc. 

Com esses recursos, a Euritmia tem o poder de expressar cenicamente, de um modo ampliado e visual, a dinâmica sonora interna de poemas e músicas, conferindo expressão cênica a obras da Literatura e da Música de todos os tempos. Daí se pode intuir os títulos dados aos dois principais cursos ministrados por Rudolf Steiner para a consolidação dessa arte, e que foram assim publicados: ”Euritmia como fala visível” e “Euritmia como canto visível”.

A capacitação do profissional, o/a euritmista, se dá através de uma formação específica, longa e abrangente, e deve ser certificada pelo departamento responsável que coordena as atividades e pesquisas da Euritmia, a Seção das Artes Oratórias e Musicais do Goetheanum, sede da Sociedade Antroposófica mundial, em Basiléia, na Suíça. 

A história da Euritmia no mundo tem exibido, há mais de um século, os mais variados e instigantes espetáculos, oferecidos mundo afora a todas as idades e em contextos diversos. Além do campo da arte, a Euritmia tem se mostrado muito eficaz, como corrente de movimento, em diversas áreas de atuação na sociedade, com destaque especial para a educação e a terapia.


2. A Euritmia e suas múltiplas expressões

O nome Euritmia – do grego eu-rythmós - aponta para o caráter harmonizador de seus movimentos. A relação dos fonemas da fala com as forças formativas que constituem o ser humano integral, como a Antroposofia o revela, oferece a base para as múltiplas atuações da Euritmia, nos mais variados contextos e campos em que se pretende promover harmonia, beleza, equilíbrio ou cura. Isto vale em especial para a Educação e para a Saúde, mas cabe em qualquer contexto social e até corporativo.

No âmbito da ARTE – que fundamenta toda e qualquer atuação da Euritmia -  desde sua criação por Rudolf Steiner, mas também através da intensa dedicação de Marie Steiner von Sievers, formaram-se muitos "grupos de palco" (como são chamadas as “companhias de dança eurítmica”, "stage groups" ou "Bühnengruppen") - companhias dedicadas à pesquisa estética, ampliação e difusão da arte eurítmica através da produção de espetáculos de Euritmia, que alcançaram nos anos 1980, na Europa, o seu apogeu. Diversas dessas companhias adquiriram notabilidade, e deixaram um legado que perdura até os dias atuais, tendo alguns grupos conquistado renome internacional, no passado ou no presente, como o Eurythmeum Stuttgart (Alemanha) e o Goetheanum Bühne (Suíça), o Nederlands Eurythmie Ensemble (Holanda), o Spring Valley Eurythmy (USA), o Ashdown Eurythmy Theatre e o Peredur Eurythmy Group (Inglaterra), o Fundevogel (Áustria), o Järna Eurythmie (Suécia), e, não por último, o Grupo de Euritmia de São Paulo (Brasil), entre outros. Este último existiu por 15 anos, entre 1988 e 2003, e se propôs pesquisar a língua falada no Brasil, suas forças e particularidades, bem como a literatura e a música do país, pesquisa essa que fundamentou a criação de espetáculos inesquecíveis, levados a várias cidades brasileiras, além de diversos países da América Latina, Europa e Estados Unidos.

Como ARTE EDUCAÇÃO a Euritmia foi inserida como matéria curricular fundamental nas Escolas Waldorf.  Hoje, pouco mais de um século após a criação da 1ª escola Waldorf, em 1919, a Euritmia Pedagógica é aplicada mundo afora, tendo efeito muito benéfico sobre o desenvolvimento corporal, afetivo, intelectual e espiritual de crianças e jovens. Em última instância, através de seus movimentos específicos, aplicados em sala de aula de forma lúdica e criativa, ela contribui substancialmente para a saúde integral dos alunos, e para o pleno e livre desenvolvimento da individualidade. 

No campo da SAÚDE a Euritmia Terapêutica acompanha de modo eficaz e surpreendente as terapias. Poder movimentar os gestos que se relacionam intrinsecamente com as forças formativas do organismo (as forças etéricas, presentes na fala), executando movimentos específicos para cada doença ou distúrbio, seja orgânico ou psíquico, promove a reorganização da saúde integral, o equilíbrio do indivíduo com a natureza e com o cosmo, o restauro do ser integral em sua biografia.

No CAMPO EMPRESARIAL a Euritmia Social tem se mostrado muito benéfica nas dinâmicas corporativas de entrosamento que tocam questões como liderança, criatividade, comunicação, iniciativa e bem-estar.


3. A Euritmia no Brasil

No Brasil a Euritmia acontece regularmente desde os anos 1950. Inicialmente realizada por especialistas vindos da Alemanha, ela esteve ligada à fundação da 1ª escola Waldorf no Brasil em 1956, em São Paulo, a então Escola Higienópolis, mais tarde denominada Escola Waldorf Rudolf Steiner. Com o passar dos anos e com o surgimento de novas escolas Waldorf no país, a Euritmia foi se consolidando no campo pedagógico, e foi sendo inserida nos cursos e formações para adultos nos mais diversos setores, em projetos educacionais e sociais, em festivais de jovens, e também como terapia ministrada por inúmeros profissionais especializados. 

Em 1988 o Brasil recebe um grupo pioneiro de jovens euritmistas brasileiros, treinados em centros de formação da Europa, que voltavam ao Brasil para desenvolver aqui um importante núcleo de pesquisa eurítmica, o Grupo de Euritmia de São Paulo, dedicado à produção artística e ao estudo fenomenológico da língua falada no Brasil bem como da música e literatura produzidas por seus poetas, escritores e seus mais notáveis compositores eruditos, até então ainda pouco difundidos. Seus integrantes também se dedicaram às escolas Waldorf, e acolheram em seu grupo, nos anos subsequentes, vários colegas brasileiros, treinados na Europa e, mais tarde, no Brasil.

Em 1993 foi criada a 1ª formação brasileira em Euritmia pelo IMO Núcleo de Euritmia, inicialmente abrigada no então Centro de Artes, instituição que se dedicou por 10 anos à formação artística com bases antroposóficas, nas especialidades da Escultura, da Pintura e da Euritmia. Mais tarde, o Brasil abrigou uma Formação em Euritmia Terapêutica (FET), de destaque internacional, que preparou, por vários anos, dezenas de euritmistas para a atuação terapêutica em toda América Latina.

No ano de 2001 foi fundada a ABRE - Associação Brasileira dos Euritmistas https://www.euritmia.org.br/ - entidade sem fins lucrativos que oferece o respaldo jurídico e institucional à profissão do/a euritmista no Brasil, além de promover congressos, festivais, cursos de formação avançada, publicações e eventos de toda sorte relacionados à Euritmia.


35 anos de ARTE EURÍTMICA no Brasil (2023)

Enquanto ARTE, a Euritmia teve no Brasil sua maior expansão através dos 15 anos de atuação do Grupo de Euritmia de São Paulo. Através de seus inúmeros espetáculos e turnês, o Grupo de Euritmia de São Paulo conquistou notoriedade no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, através de mais de uma dezena de projetos artísticos, atingindo seu apogeu nos espetáculos Alma Brasileira (1998-2001) e Amálgama (2001-2004). Mas outras criações posteriores, realizadas por grupos profissionais parceiros, vêm dando destaque à Euritmia brasileira através de espetáculos como Cotidiano do Grupo Experimental de Euritmia (2010-12), Oblivion do Grupo ECOAR (2010-12), Os Servos de Pan (2015-17) e Na anatomia oca dos pássaros – ensaio lírico a Santos Dumont (2018-2023) da Cia Terranova, entre vários outros. 

Para dar uma ideia dessa ampla variedade, foi criada em 2023 uma Curadoria, sob o respaldo da ABRE, que compilou materiais para a criação de um pequeno vídeo, com excertos de alguns dos mais notáveis espetáculos, produzidos em 35 anos de Euritmia Brasileira. Clique aqui para ver o vídeo.

O Brasil se destaca também pela expressividade das produções eurítmicas nas ESCOLAS, entre crianças e jovens. Um grande diferencial da Euritmia escolar brasileira é o trabalho que vem sendo realizado desde 1998 no Ensino Médio das escolas Waldorf, que culminou entre 2013 e 2017 nas seis edições do Festival de Euritmia Jovem, distribuído entre São Paulo e Botucatu. Esses eventos foram palco de notáveis produções trazidas por alunos de 9º a 12º anos de São Paulo (escolas Rudolf Steiner, Francisco de Assis, Waldorf SP e Colégio Micael), Botucatu (escola Aitiara), Campinas (escola Veredas), Piracicaba (escola Novalis), Bauru (escola Viver), Ribeirão Preto (escola Guimarães Rosa) e Florianópolis (escola Anabá).  

Como desdobramento do interesse dos jovens pela Euritmia curricular em sala de aula têm sido criadas, desde 2003 até os dias atuais, vários espetáculos de jovens que têm representado anualmente o Brasil em festivais e encontros internacionais de jovens - nos Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Holanda, França, Suécia... Os grupos Terra Brasilis, Grupo de Euritmia Jovem, Terranova Pré-Graduação, Euritmia Jovem Francisco de Assis, Grupo de Euritmia Sem Fronteiras, Grupo VOA de Euritmia Jovem, IGG Brasil, Grupo Minerva... – criaram e continuam criando uma história eurítmica, consolidando com destaque uma expressiva Euritmia Jovem brasileira, levando seu entusiasmo e fantasia a muitos jovens de todo o mundo através de sua presença nesses eventos internacionais. 


4. Publicações específicas

Froböse, E. e E. Euritmia – sua origem e seu desenvolvimento segundo Rudolf Steiner. Trad. C. Bertalot. (Ed.Antroposófica, 2022).

Kirchner-Bockhot, M. Elementos Fundamentais da Euritmia Curativa. Trad. R.R.F. Barbosa. São Paulo: Ed. Antroposófica, 2009.

ABRE. Euritmia Pedagógica. Apostila produzida pelas docentes da Formação em Euritmia Pedagógica da FEART, 2022.